quinta-feira, 29 de junho de 2017

"SAÚDE E BEM-ESTAR": O DESAFIO DE ANE NO PROGRAMA ONLINE "EXERCÍCIO E ENDOMETRIOSE"!

Ane ao lado de seu esposo, Paulo e do filho, Danilo,
quatro meses antes de iniciar nosso desafio do
programa online "Exercício e Endometriose". 



Alguns meses atrás percebi que a autoestima da nossa colaboradora-voluntária e autora da coluna "Gestação do Coração", Ane, estava bem baixa por conta do aumento de peso. Eu me lembro bem de como ela estava magra na "EndoMarcha 2016", mas por conta das dores, que voltaram a todo vapor, Ane parou de malhar e o sedentarismo aliado ao tratamento hormonal não poderia ter outro resultado: o ponteiro da balança subiu. E subiu bastante. Por ser uma pessoa muito querida, aquela que posso contar sempre que eu precisar e a qualquer hora, eu precisava pelo menos tentar dar um novo ânimo para ela. Por isso não pensei duas vezes: vou desafiá-la a testar o programa online "Exercício e Endometriose", desenvolvidos pelo educador físico Renato Trevisan. Ela não pensou duas vezes e aceitou na hora. Eu avisei o Renato e deixei por conta dela, já que os exercícios são feitos em casa e é preciso disciplina e muita força de vontade. Ane tem um filho, trabalha fora e chega muito, mas muito tarde em casa. E ainda está com dores, um grande agravante, mas como o programa tem os exercícios regenerativos, desenvolvido especialmente para quem sofre com dor crônica, achei que seria uma boa ideia fazê-la mexer o esqueleto. Porém, não imaginava que o resultado de 30 dias seria impressionante. Ao mesmo tempo ela começou a fazer acupuntura, e em 30 dias, ela perdeu cinco quilos. As fotos não mentem! E esse foi apenas o primeiro mês. A meta de Ane é chegar nos 54 quilos. Tenho certeza que a força de vontade de Ane irá inspirar muitas endomulheres a se exercitarem. Deixo para ela contar tudo para vocês, mas já posso dizer que estou ansiosa para o próximo texto dela. Se você está como Ane estava, a mudança só depende de você. Leia o texto, inspire-se e comece a fazer alguma atividade física hoje mesmo. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por Ane Bulcão
Edição: Caroline Salazar

Olá meninas, tudo bem com vocês?

Hoje escrevo para compartilhar uma nova etapa de minha vida. Como vocês já me acompanham em outros textos da coluna “Gestação do Coração sabem que pouco tempo depois da minha cirurgia realizada em fevereiro de 2015, as dores retornaram e os exames comprovaram que ainda tem focos de endometriose no meu corpo. E eu que já tinha retornado à rotina normal e com muito esforço havia conquistado o peso ideal e estava super feliz, de repente me vi numa situação em que não mais conseguia treinar por conta das dores. E, como resultado, comecei a engordar de novo, uma vez que meu metabolismo, segundo minha endocrinologista, estava estagnado e os hormônios que tomo para conter os sintomas da doença foi a cerejinha do bolo: pulei de 54 quilos para 72 em apenas um ano.

Ane se exercitando em sua casa.
A felicidade estampada no rosto após
perder cinco quilos. Foto de junho 2017
A depressão bateu à porta, mas o apoio incondicional de meu esposo e a chegada de nosso filho era mais que uma razão para não desistir de lutar. E muitas foram as vezes que também desabafei com minha querida amiga Caroline Salazar e ela sempre solícita em me ouvir me colocava pra cima. Foi aí que certo dia ela me fez uma proposta, na verdade um desafio: participar do programa online Exercício e Endometriose”, desenvolvido pelo educador físico Renato Trevisan que também é colunista do blog. Ele desenvolveu um excelente trabalho de reabilitação para mulheres portadoras de endometriose, onde os exercícios propostos minimizam e até podem eliminar as dores das endoguerreiras, além de eliminar também o inchaço e o excesso de peso que muitas de nós acabamos adquirindo por causa do sedentarismo forçado (já que a dor nos impede de nos exercitar) e dos hormônios que tomamos.

Confesso que no começo hesitei um pouco em aceitar o desfio muito mais por medo de decepcionar a mim mesma, como também as leitoras se não conseguisse resultados positivos. Mas eu resolvi aceitar o desafio, pois pensei que esta seria uma excelente oportunidade de ter apoio não só da minha família e dos meus amigos, como também de muitas endoirmãs que sofrem com a dor crônica como eu, mas que sempre enxergam uma luz no fim do túnel.

Uma vez aceito desafio de Caroline de participar desse “reality show”, comecei meu treino. Primeiro expliquei toda minha situação ao Renato, como me sentia física, psicológica e emocionalmente, as minhas possibilidades de se exercitar, principalmente, em relação ao tempo, pois hoje tenho um filho e também trabalho fora. Paralelamente comecei a fazer acupuntura e a tomar um remédio para dor neuropática receitado pela minha psiquiatra, e depois de algumas conversas com Renato (ele me orientou por whatsapp), no dia 14 de maio iniciei o treino regenerativo. Eu estava com muitas dores, então, nesse primeiro momento comecei com caminhadas bem leves, no ritmo do meu corpo, sem forçar muito. Esses primeiros dias foram muito difíceis, mas estava determinada a alcançar meu objetivo. Além do mais, consegui um parceiro tão determinado quanto eu: meu filho, que disse que também caminharia comigo para me dar apoio.

Assim segui, nas caminhadas e com a acupuntura, teve dias que realmente não deu para caminhar, pois tive que repousar por conta das dores muito fortes, porém, devagar e sempre, aos poucos fui percebendo os resultados. Cerca de 20 dias após o início já percebi que minhas roupas começaram a ficar mais folgadas, um sapato que antes estava apertado no pé já não incomodava mais, e quando dei por mim em menos de um mês eu havia emagrecido cinco quilos! Pulei do 72 quilos para 67. 

Foi uma grande alegria, e ainda tem muito mais para fazer, pois estou apenas começando o meu treino do programa online “Exercício e Endometriose”. A esperança voltou a brilhar em meus olhos e, em pouco tempo, minha autoestima, que estava quase no pé já está nas alturas. Este é apenas o primeiro texto de um longo processo. Ficarei muito feliz em poder compartilhar com vocês essa experiência, pois sei que com certeza, iremos ajudar muitas endomulheres a começarem a se exercitar e a saírem da inércia e, consequentemente, a melhorar sua autoestima assim como está acontecendo comigo. E por hoje é só, aguardem o próximo texto. Beijo carinhoso.

terça-feira, 27 de junho de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!

Dando continuidade ao especial de infertilidade na coluna “Com a Palavra, o Especialista” deste mês de junho (leia a parte 1), o doutor Alysson Zanatta responde uma dúvida muito comum entre as portadoras, e até mesmo de muitos médicos: a gravidez trata a doença? Apesar de ser um dos grandes mitos da doença - já falamos muito sobre o assunto no A Endometriose e Eu, recomendo a leitura do texto do médico e cientista americano David Redwine “A gravidez é a cura para a endometriose?” traduzido em 2013 -, a gravidez infelizmente não cura e nem trata a endometriose. Há cerca de quatro anos começamos a desmistificar a doença no Brasil, e este assunto é de muita relevância. Aqui o doutor Alysson explica porque muitas endomulheres podem ter a sensação de “estarem curadas” durante e após a gravidez. Já a outra questão é sobre a diferença entre endometriose e adenomiose. Infelizmente, muitas endomulheres demoram a gestar e outras não conseguem por conta da adenomiose. Mas qual é a causa da adenomiose? É a mesma da endometriose? E qual seu tratamento? Compartilhe mais um texto exclusivo A Endometriose e Eu e espalhe a correta conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

- Doutor Alysson escutamos muito de médicos, inclusive, quando são entrevistados em programas de tevê, que a gravidez é um tratamento para a endometriose, mas eu nunca entendi muito bem por quê? Como seria esse tratamento? Qual sua opinião sobre isso? Anônima

Doutor Alysson Zanatta: Gravidez não trata endometriose. Tratar no sentido de erradicar a doença, fazê-la desaparecer. É mais um dos vários mitos associados à endometriose.

O que acontece é que, durante a gravidez, os sintomas da endometriose podem desaparecer, e de fato, algumas mulheres não voltam mais a ter dor após a gestação (ou as tem em menor intensidade). Isso é erroneamente interpretado como tratamento da endometriose. As lesões continuam lá, exatamente como antes da gestação, porém às vezes podem causar menos dor.


E como a dor pode diminuir, surge à sensação de cura. Na verdade, a lesão estará menos inflamada, talvez decorrente das altas doses de progesterona que circulam no corpo da mulher durante a gestação.


A progesterona é antagonista do estrogênio. Reduz os efeitos do estrogênio. Como a lesão da endometriose é estimulada pelo estrogênio e fica inflamada sob sua ação, a progesterona age contrapondo-se ao estrogênio, diminuindo a inflamação e a dor. Entretanto, não há redução da lesão em si.

- Qual a diferença entre endometriose e adenomiose? Qual seria a causa delas e o tratamento mais indicada para cada uma delas?  Bruna Lane – Brasília – DF

Doutor Alysson Zanatta: Olá Bruna. Ambas estão correlacionadas, e talvez tenham a mesma origem. Endometriose refere-se à presença de lesões (nódulos, cistos e aderências) que contêm células parecidas com endométrio localizadas FORA do útero. Já a adenomiose refere-se também à presença de células semelhantes ao endométrio NA PAREDE MUSCULAR do útero, o miométrio.

Os sintomas (cólica menstrual, sangramento e dor durante a relação sexual) de ambas poderiam ser controlados, parcial ou totalmente, com medicações hormonais. A ressecção cirúrgica máxima dos focos de endometriose por laparoscopia é o tratamento mais efetivo para combater a dor da endometriose. Quanto à adenomiose, a única cirurgia possível é a histerectomia (retirada do útero), quando necessária.


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

terça-feira, 20 de junho de 2017

ENDOMARCHA 2018: DATA OFICIAL E O CADASTRO DOS PARTICIPANTES DA 5ª EDIÇÃO DA MARCHA MUNDIAL!

Logo oficial da EndoMarcha Time Brasil 2018

EndoMarcha 2018 já tem data para acontecer. Dia 24 de março de 2018, penúltimo sábado do mês, mais de 70 países estarão, pelo quinto ano consecutivo, unidos em prol da conscientização da endometriose. Já marca em sua agenda! Março é o mês mundial de conscientização da doença que afeta mais de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo. No Brasil somos mais de 6, 10 milhões de endomulheres. Ainda não há um número correto de portadoras no Brasil, apenas uma estimativa de acordo com algumas faixa etária. Em 2017, 14 cidades, de 13 estados, de norte a sul do Brasil, participaram da EndoMarcha2017. Minha gratidão aos coordenadores (agora no masculino, pois temos dois homens no comando regional da marcha) que fizeram a marcha acontecer.



Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose é a oportunidade que temos de nos unir para reivindicar os direitos que já teríamos de ter como cidadãos. Nós reivindicamos o que teria de ser nosso por direito. Não é um absurdo isso? Pois é, mas precisamos ir à luta. Por isso a união de todos, independente, de que grupo participa é muito importante. Como nos anos anteriores, os interessados a participarem da caminhada têm de se inscrever no Cadastro de Voluntários (clique aqui). Quem já se inscreveu nos anos anteriores, não precisa se cadastrar novamente. É importante se cadastrar, pois é por ele que as coordenadoras estaduais entram em contato para passar as informações referentes à EndoMarcha de sua cidade.  Já escrevi um texto sobre o "Papel dos voluntários na EndoMarcha Time Brasil". 

Mais uma importante capital do norte do país entrou para a EndoMarcha 2018. Antes mesmo de anunciar a data, a nova coordenadora entrou em contato comigo pelo Instagram (@aendoeeu) do blog e falou de seu interesse. Expliquei a ela o papel de um coordenador e ela topou na hora. E eu não preciso de dizer que fiquei mega feliz. Em breve vou anunciar esta nova cidade. Se você deseja coordenar a EndoMarcha 2018 em sua cidade ou patrocinar a marcha em alguma cidade entre em contato comigo no email: endomarch.brazil@gmail.com. O prazo para a inscrição das novas cidades é até o dia 30 de novembro. 


As inscrições das cidades vão até o dia 30 de novembro. Precisamos dar um basta em nosso silêncio. Esta é a nossa oportunidade anual de mostrar nosso rosto, de gritar para quem quiser ouvir que a endometriose é uma doença séria, que precisa ser levada a sério pela sociedade e, principalmente, pelos médicos para que haja o diagnóstico precoce da doença. A média mundial é de sete a 12 anos. E  doença afeta uma a cada 10 mulheres. É muita mulher sofrendo. Cadê essa mulherada toda? Não adianta ficar reclamando sentada no sofá. É muito melhor arregaçar as mangas e ir à luta, não é mesmo? A união faz a força e juntas somos mais fortes. Beijo carinhoso! A capitã, Caroline Salazar

terça-feira, 13 de junho de 2017

DAVID REDWINE: A IMPORTÂNCIA DA REVISÃO DOS PRONTUÁRIOS MÉDICOS NA ENDOMETRIOSE!!

Foto: A Endo e Eu


Neste brilhante texto, o médico e cientista americano David Redwine fala da importância dos prontuários médicos para o diagnóstico e tratamento da endometriose. Claro, nada substitui uma anamnese bem detalhada e o exame clínico, mas ter o histórico da paciente é importante para fechar o diagnóstico. Muitas vezes a mulher pode ter endometriose associada à outras doenças ou outras doenças que podem ter sintomas semelhantes aos da endometriose. Principalmente se ela for mais velha. Com mais de três décadas tratando apenas endometriose, o doutor Redwine descreve os locais mais comuns e previsíveis da endometriose, os sintomas que ela pode causar e os sintomas de doenças que derivadas do útero. Eu tinha muitas, mas muitas aderências, meus órgãos estavam todos embolados dando nó dentro de mim. A dor era insuportável, e eu não conseguia descrevê-las. Quando meu médico disse que minhas terríveis dores não eram da endometriose, eu fiquei p. da vida, mas depois da minha primeira cirurgia consegui distinguir o que era dor da endometriose e o que era das aderências. O doutor Redwine também aborda a questão da dependência para aquelas que fazem tratamento com medicamentos derivados do ópio, como morfina e seus derivados. Eu tive sorte por tê-los usado por pouco tempo, mesmo assim só os usava quando precisava tentar descansar um pouco, preferia passar mais tempo com dor. Acho que fiz a coisa certa. Este é mais um texto importante não só para ser compartilhado entre as endomulheres, mas com médicos e cirurgiões, especialmente, os que tratam de endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 


Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar



O papel da revisão dos prontuários médicos no diagnóstico e no tratamento da endometriose

Quando uma paciente considera vir à Bend para realizar cirurgia (nota do tradutor: Bend era a cidade de residência e trabalho do doutor Redwine, no estado do Oregon, Estados Unidos), todo o processo se inicia pela revisão de seu prontuário médico. Se você alguma vez imaginou como seria esse processo, essa é sua chance de vê-lo através de meus olhos.

Supõe-se que a endometriose seja uma doença enigmática que enganou os médicos por décadas. Como pode, portanto, um médico sentir-se confortável em aconselhar uma paciente, por carta, que esteja a centenas ou milhares de quilômetros de distância com tal doença misteriosa e sem nunca tê-la visto? Bem, algumas vezes isso não é fácil. Eu de fato reviso pessoalmente todo o prontuário médico, e o levo para casa nos finais de semana para terminar durante as noites ou finais de semana. Eu tento reservar algum tempo para lazer, mas sinto que tenho uma responsabilidade com as pacientes que buscam minha ajuda, algumas vezes após 10 cirurgias prévias e várias tentativas de tratamento médico.

É possível fazer uma boa revisão do prontuário de quase todas as pacientes, porque (ao contrário do entendimento comum) a endometriose é uma doença previsível. Posso afirmar isso agora, após ter operado milhares de mulheres com a doença. Há muitas coisas que passam pela minha cabeça durante uma revisão de prontuário, e eu as discutirei agora.

Idade:

Quanto maior a idade da paciente, mais provável é que ela tenha alguma outra doença além da endometriose. Por exemplo, miomas e adenomiose uterina são mais comuns quando as mulheres envelhecem, e então as pacientes com mais de 35 anos podem ter algo além ou simultaneamente como causa da dor. A cirurgia conservadora para endometriose não tratará a dor de origem uterina.

Sintomas inespecíficos:

Se uma paciente tem dificuldade em descrever seus sintomas, como onde e quando eles ocorrem, então é possível que nem haja endometriose; ou seja, pode ser que ela não seja a causa das dores. Tal paciente pode não ter uma boa perspectiva de alívio da dor após a cirurgia.

Sintomas específicos:

A endometriose ocorre mais comumente no fundo de saco (nota do tradutor: região pélvica entre o útero e o intestino) e tecidos adjacentes. Qualquer fator que afete a doença nessa região causará dor, como a penetração profunda durante a relação sexual, exames ginecológicos e movimentos intestinais.

Se a paciente relata que tem dor aos movimentos intestinais durante todo o mês, ela pode ter um bloqueio do fundo de saco (o reto está preso à face posterior do colo uterino, indicando doença invasiva de toda a região). Se ela relata dores aos movimentos intestinais apenas durante as menstruações, pode ser que ela tenha endometriose apenas no fundo de saco e nos ligamentos útero-sacros.

Uma dor menstrual que é relatada na parte central da pelve com irradiação para a face anterior das coxas, além de dor lombar baixa até o umbigo, costuma ser proveniente do útero. A remoção da endometriose pode não tratar esse tipo de dor.

Idade de início dos sintomas: muitas pacientes com endometriose começam a ter dor na adolescência (menstruações dolorosas), e desenvolvem outros tipos de dor com o passar dos anos (dor na relação sexual, dores aos movimentos intestinais, dor ao se sentar, dor fora do período menstrual, etc). Assim, muitas pacientes que eu vejo têm um diagnóstico cirúrgico de endometriose por volta dos 30 anos de idade. Se a paciente relata que suas dores começaram após os 35 anos de idade, é pouco provável que a endometriose seja a culpada pela dor.

História de incapacidade extrema e de dependência de medicações narcóticas:

É extremamente raro que a endometriose cause incapacidade a uma paciente ao ponto dela estar em uma cadeira de rodas, dependente de muletas, ou ficar acamada por vários meses seguidos sem trabalhar. É pouco provável que tal incapacitação seja causada pela endometriose e que a cirurgia melhore essa situação.

A endometriose é uma condição dolorosa que eventualmente requer medicações narcóticas (nota do tradutor: medicações opioides como morfina ou seus derivados) para o tratamento, e há, portanto algum potencial para desenvolvimento de dependência, tolerância ou vício. Isso significa que essa paciente irá necessitar de mais analgésicos após a cirurgia, mas pode ser também que ela seja dependente e peça para ficar mais tempo no hospital para receber medicações intravenosas ou intramusculares e ainda necessitar de desmame de medicação quando ela retornar para casa.

Um dos sintomas da abstinência dos medicamentos pode ser a dor abdominal, a qual pode às vezes se sobrepor aos sintomas da endometriose. Tais pacientes têm mais trabalho a fazer do que apenas a recuperação da cirurgia.

Histórico de gestações:

Apesar da gestação não fazer a endometriose desaparecer, a endometriose pode ser uma causa de infertilidade. Portanto se uma mulher esteve grávidas várias vezes, é menos provável que ela tenha endometriose severa.

Resposta a tratamentos medicamentosos:

O tratamento medicamentoso não erradica a endometriose. O melhor que ele pode fazer é melhorar temporariamente a dor enquanto a função ovariana da mulher estiver suprimida. Uma vez que o tratamento é interrompido, os ovários acordam em algumas semanas e a dor recorre, porque sua causa ainda está presente.

A melhora da dor com medicações não significa necessariamente que a paciente tenha endometriose porque várias outras causas de dor podem melhorar por um tempo com medicações, como miomas, adenomiose, dor da ovulação e a dismenorreia (nota do tradutor: cólica de origem uterina sem origem aparente).

Achados em cirurgias prévias:

Os relatos de cirurgias prévias podem ajudar bastante. Algumas vezes a endometriose é óbvia e “clássica” em sua descrição e eu posso ter clara certeza de que está presente mesmo que não tenha sido realizada nenhuma biópsia. Algumas vezes o bloqueio do fundo de saco é descrito como “aderências severas atrás do colo do útero” ou “o intestino estava bastante aderido ao útero”.

Tais relatos carecem de significado. A paciente tem mais do que apenas aderências – ela tem endometriose profunda dos ligamentos útero-sacros, fundo de saco, região posterior do colo uterino e geralmente na parede anterior do reto.

Resposta clínica às cirurgias:

A cauterização de focos e o tratamento com laser podem deixar doença para trás, especialmente se a doença é profunda abaixo da superfície. Eu quase sempre encontro endometriose nessas pacientes, e sou otimista quanto ao seu prognóstico. Mas se a paciente passou por uma boa cirurgia de remoção, eu geralmente não encontro endometriose ou encontro muito pouco, já que a remoção pode curar a doença. A dor que persiste após uma cirurgia de remoção extensa da doença é normalmente causada por outros motivos.

Exames ginecológicos prévios:

Na maioria das pacientes é fácil acessar o fundo de saco durante o exame ginecológico. A região costuma ser dolorosa mesmo se a paciente estiver tomando remédios. Quando eu leio que um exame ginecológico anterior demonstrou dor ou nódulos dolorosos (nódulos indicando endometriose profunda), é altamente provável que haja endometriose e que ela seja a responsável pela dor.

Se o exame reproduz a dor da paciente, a perspectiva de alívio da dor após a cirurgia é alta. Se o exame não reproduz a dor, significa que o (a) médico (a) não atingiu a região correta (dedos curtos?) ou que talvez nem haja endometriose. Tais pacientes têm poucas chances de melhora após a cirurgia.

Coisas que não ajudam:

Exames de Papanicolaou (citologias oncóticas), exames laboratoriais normais, registro de medicações utilizadas no hospital em cirurgias prévias, registros obstétricos.

Coisas que ajudam:

No mínimo, é necessária uma história clínica detalhada da paciente, mas registros de cirurgias prévios também são sempre úteis. Algumas pacientes passaram por tantas cirurgias que elas não conseguem localizar todos os relatórios, especialmente daquelas mais antigas. Os relatórios cirúrgicos recentes são mais úteis.

Resumindo:

A revisão dos prontuários é uma arte, mas em minha experiência ela pode fornecer uma quantidade enorme de informações com alto grau de acerto, sendo uma ferramenta indispensável na prática clínica. Você nem sempre é preciso, mas um exame ginecológico em uma paciente antes da cirurgia pode preencher várias lacunas e responder várias perguntas.

A avaliação final deverá sempre aguardar a recuperação completa da paciente, já que a dor que é causada pela endometriose terá desaparecido após a sua remoção. A dor persistente significa que ela era causada por algum outro fator, e não pela persistência de “focos microscópicos” ou doença que está escondida em algum outro local e que não possa ser encontrada.

Nota do Tradutor:

Nesse texto, doutor Redwine faz uma distinção entre os sinais e os sintomas que sugerem endometriose daqueles que possivelmente não são causados pela doença. O assunto é muito importante, pois, ao formarmos um raciocínio clínico sobre a real causa das dores de uma mulher (seja endometriose ou não), teremos mais chances de acertarmos em nossas decisões.

Assim, o ponto mais importante na avaliação da mulher é estabelecermos uma relação de causa e efeito entre sua doença e seus sintomas. Em alguns casos encontraremos mulheres que de fato têm endometriose, mas cuja doença não explicaria suas queixas. Ter o entendimento e o “feeling” dos sintomas comuns da endometriose é fundamental na principal decisão a ser tomada: operar ou não operar?

Há poucas coisas tão frustrantes quanto passar por uma cirurgia e não ter melhora. A maior frustrada é a própria mulher, mas o médico também o é. Há um ditado em Medicina que diz que “mais importante do que saber operar, é saber quando não operar”. Isso é nítido no caso da endometriose. O grau de satisfação de ambos paciente e médico dependerá de uma correta indicação cirúrgica e de uma remoção máxima e efetiva da doença. E a indicação correta depende não mais do que uma boa conversa (impossível em consultas de 15 minutos), um exame ginecológico que identifique a dor e um exame de imagem feito por especialista. Fechando-se o raciocínio clínico, a cirurgia terá alta chance de sucesso. Não se fechando, pode ser que paciente fique ainda mais satisfeita por não passar por cirurgia desnecessária. 


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!

Há muitos mitos que cercam a endometriose. Apesar de a endometriose ser a doença feminina que mais causa a infertilidade, ser portadora da enfermidade não significa que a mulher terá dificuldades para engravidar. Endometriose não é sinônimo de infertilidade. Já falamos sobre isso diversas vezes no A Endometriose e Eu, mas essa é uma das perguntas que mais recebo por email e também por mensagem. Aproveitando que junho é o mês internacional de conscientização da infertilidade, o doutor Alysson Zanatta vai tirar todas as suas dúvidas sobre esse assunto e vai falar também sobre um dos vários mitos que a doença tem: a gravidez é a cura para a endometriose? Já traduzimos um artigo do doutor David Redwine sobre o assunto, e agora chegou a vez do doutor Alysson te responder em “Com a Palavra, o Especialista”. Neste mês teremos um especial na coluna sobre os mitos da endometriose versus infertilidade. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

- Qual a possibilidade de engravidar quando a mulher tem endometriose? O doutor acha que pelo fato de a mulher ter endometriose já seja critério para realizar indução de ovulação para tentar engravidar mais rápido ou recomenda algum tempo de tentativas antes da indução? Se sim quanto tempo? Amanda Quevedo – São Paulo

Doutor Alysson Zanatta: Como vai Amanda, tudo bem? Metade das mulheres com endometriose pode engravidar. Esse índice pode ser maior ou menor de acordo com a idade da mulher, e se ela já teve outra gestação no passado. De fato, o fator que mais impacta as chances de gestação de uma mulher é a sua idade. Há uma queda natural do potencial reprodutivo a partir dos 35 anos, e essa queda se acentua bastante a partir dos 37 a 38 anos de idade.

Ter endometriose não significa necessidade de tratamento para engravidar, pois, como citado, até metade das mulheres engravida. O tempo de tentativa que um casal deve aguardar antes de procurar tratamento é dependente da idade da mulher, e se existe ou não algum outro fator que possa dificultar a gestação. Lembrando que consideramos um ano como o tempo normal que o casal pode demorar a engravidar. Muitas vezes, há uma falsa sensação de que, quando começamos a tentar engravidar, essa já irá ocorrer no início da tentativa. Poder ser que sim. Mas poder ser que demore um ano, o que ainda está dentro do normal. E pode ser que não ocorra, necessitando algum tipo de tratamento.

- Muitas mulheres dizem que ficaram curadas após a gravidez. Isso é verdade?  Se não porque elas têm essa sensação? Taís Moreira – Jaguariúna – SP

Doutor Alysson Zanatta: Olá Tais. De fato, algumas mulheres deixam de sentir dor após uma gestação, levando à sensação que tenham sido curadas. Infelizmente isso não é verdade. Dizer que a gestação cura a endometriose é um mito. O que acontece é que a endometriose pode deixar de causar dor, mas a lesão permanece no mesmo local. Algumas mulheres têm a felicidade de não mais sentirem dores, enquanto outras podem voltar a ter dor em algum momento da vida. 


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

terça-feira, 6 de junho de 2017

MEU DEPOIMENTO: CINCO ANOS SEM DORES, SEM FOCOS E COM A QUALIDADE DE VIDA QUE SEMPRE SONHEI!!



Eu na EndoMarcha 2017 em São Paulo
 Foto: Marcos Vieira/ A Endo e Eu



Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta

No último dia 1° de junho completei cinco anos da minha segunda e última videolaparoscopia. Cinco anos que recuperei minha qualidade de vida. Cinco anos que não sinto mais nenhuma dor. Cinco anos que me libertei de uma dor que me aprisionava em minha cama, em minha casa. Cinco anos que me livrei daquela dor horrorosa que aliviava apenas com morfina e seus derivados. Cinco anos de uma nova vida, sem dor, sem focos ativos. Cinco anos que me sinto curada. Cinco anos de liberdade!

Se a cura é a ausência de sintomas e ou dos focos, então, posso dizer que até o momento estou com “as duas curas”. Pois é, se para muitas pessoas a endometriose ainda não tem cura, então, que milagre aconteceu? Eu descobri em 2013 com duas pacientes do doutor David Redwine que felizmente a doença tem cura sim, se feita a cirurgia de remoção total dos focos. Infelizmente há diferença entre cauterizar os focos e removê-los em sua totalidade, ou seja, pela raiz. Vou citar o exemplo que o doutor Alysson Zanatta me explicou: imagine se a endometriose fosse um Iceberg no oceano. A cauterização retira apenas a parte de cima do iceberg, a superficial, e não ele todo, enquanto a remoção total vai retirar todo o iceberg do oceano. Já pedi ao doutor Alysson Zanatta um texto bem explicativo sobre a diferença entre os dois tipos de cirurgia.

Sabe o que eu acho mais engraçado? O que eu mais ouvia dos médicos quando eu estava no auge das minhas dores é que nosso cérebro tem memória e que não esquece facilmente a dor. Bom cinco anos sem nenhuma dor, eu digo que meu cérebro esqueceu sim as terríveis dores. É óbvio que eu não me esqueci das dores, tanto que continuo na luta pelo reconhecimento da doença como social e por políticas públicas efetivas às milhares de endomulheres, mas o meu cérebro não se lembra mais delas. Daí eu pergunto: de onde os médicos tiram a afirmação de que nosso cérebro apenas somatiza as dores e não as esquecem?

Essa é outra reflexão que precisamos fazer. E assim como eu existem muitas endomulheres curadas, seja com ausência de focos ou dos sintomas, mundo afora. Sempre deixei claro no blog que o importante é a endomulher ser acompanhada por um especialista que realmente entenda sobre a doença. Fazia muitos anos que não escrevia sobre mim e achei um momento oportuno para celebrar com vocês: meus cinco anos sem as dores da endometriose e sem focos. Ao mesmo tempo sei também que esse meu relato vai levar ainda mais fé e esperança a milhares de endomulheres que sofrem com as dores severas, assim como eu sofri. Sofri 18 anos sem saber o que eu tinha e mais três já sabendo que eu era portadora de endometriose.

No total foram 21 anos sofrendo com as dores de uma doença grave, considerada uma das 10 mais dolorosas do mundo, mas que ainda não é valorizada pela sociedade. Pois é, meu querido cérebro, obrigada por mostrar que na prática é possível não ter memória das dores e começar a (re) viver uma vida plena e feliz. O que ficará marcado para sempre no meu cérebro: o dia 1° de junho de 2012, o dia do meu renascimento para minha nova vida sem dores! Tive uma gestação plena e sem nenhuma dor. Por conta da amamentação (Babi mama até hoje com 2 anos e 3 meses, pasmem!) fiquei quase 2 anos e 9 meses sem menstruar. Em março deste ano tive o retorno da menstruação sem dor e tive apenas uma leve ardência nas pernas, o que não é nada para quem conviveu tanto tempo com as dores severas da doença. Com isso tenho mais um motivo para continuar firme na luta por políticas públicas efetivas para as mais de 6 milhões de brasileiras que sofrem com a doença. Obrigada a todas (os) que sempre torceram por mim. Beijo carinhoso! 

domingo, 4 de junho de 2017

"SAÚDE E BEM-ESTAR": DISPAREUNIA - O QUE É E COMO TRATAR A DOR DURANTE AS RELAÇÕES SEXUAIS!

imagem cedida por Free Digital Photos



Por meio dos meus relatos pessoais por conta de um grave sintoma da endometriose, a dispareunia, o A Endometriose e Eu quebrou paradigma e foi o primeiro blog a descrever nua e crua as dores durante o ato sexual. O começo não é a dor precisamente dita, mas um desconforto que vai aumentando, aumentando até a mulher não conseguir sentir prazer num ato que deve ser apenas de puro prazer: o sexo. Já escrevi inúmeros artigos no blog sobre o tema, bem como o tratamento que fiz para melhorar a minha dispareunia que tinha nome e sobrenome: de profundidade. A pior das dispareunias. O tratamento foi longo, demorado, mas valeu muito a pena. Foram mais de dois anos de fisioterapia uroginecológica. Para falar um pouco mais sobre esse problema que atinge muitas mulheres (portadoras e não portadoras) convidei a fisioterapeuta Ana Paula Bispo, que na época participou do meu tratamento. A dispareunia tem tratamento e cura. Cabe ao seu especialista diagnosticar e te encaminhar a um profissional especializado e apto a te tratar. Compartilhe mais um texto exclusivo A Endometriose e Eu e espalhe a correta conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 

Por doutora Ana Paula Bispo
Edição: Caroline Salazar

Dispareunia - o que é e os tratamentos para a dor durante e após as relações sexuais


Mulheres com endometriose possuem alterações musculoesqueléticas que expressam-se frequentemente em desvios posturais, afecções musculares, articulares e ligamentares que afetam a região da pelve, quadril e membros inferiores, podendo provocar também alterações nos músculos do assoalho pélvico, ocasionando a dispareunia.

A dispareunia é definida como uma dor genital recorrente ou persistente associada com o intercurso sexual, que pode ser subdividida em: superficial, de entrada ou de intróito e dispareunia profunda ou de profundidade, com diferentes etiologias. A dor também pode ocorrer após a relação sexual, denominada dispareunia tardia.

Entre as causas de dispareunia superficial podemos destacar a hormonal, inflamatória, neurológica, psiquiátrica, gastrointestinal, vascular, anatômica e muscular (espasmos e pontos-gatilhos), que são alterações no estado de tensão muscular, que normalmente estão aumentados e provocam dor.

Em mulheres com endometriose profunda é comum encontrarmos a dispareunia de profundidade que pode ser resultante da distensão e inflamação de tecidos pélvicos, como útero em retroversão fixa, pressão exercida em ovários, ligamentos úterossacros ou região retrocervical afetados pela doença. Em razão da dispareunia estas mulheres sentem uma diminuição importante da satisfação sexual e, em alguns casos optam pela abstinência sexual.

Dependendo da queixa, a fisioterapia empregará os recursos comumente utilizados na prática da uroginecologia, objetivando a normalização da mobilidade da pelve e do tônus dos músculos pélvicos, em especial do assoalho pélvico. Basicamente, os recursos comumente utilizados no tratamento da dispareunia são a cinesioterapia, eletroterapia, biofeedback e massagem perineal.

A massagem perineal consiste na introdução de um ou dois dedos a três ou quatro centímetros na vagina, aplicando e mantendo uma pressão primeiramente na parte muscular da parede posterior da vagina e depois de cada lado da entrada vaginal. É realizado também movimentos para trás e para e para frente nos músculos, assim quando um ponto-gatilho e/ou espasmo muscular é identificado realiza-se uma pressão no local.

Como a dispareunia é uma queixa frequente nas portadoras de endometriose, é muito importante uma avaliação criteriosa dos músculos do assoalho pélvico por um fisioterapeuta pélvico afim de que a identificação destas alterações permita uma abordagem específica à musculatura somado ao tratamento da doença de base, visando melhor taxa de sucesso e melhora da qualidade de vida e sexual dessas mulheres.

      Sobre a fisioterapeuta Ana Paula Bispo:


Ana Paula Bispo é fisioterapeuta, atualmente faz doutorado em Urologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é mestre em Ginecologia pela Unifesp, mesma instituição que fez especialização em Reabilitação do Assoalho Pélvico, e docente do curso  de Pós Graduação de Fisioterapia em Uroginecologia da Universidade Estácio de Sá. Siga a fanpage da doutora Ana Paula Bispo.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

"EU VENCI A ENDOMETRIOSE" OU "EU VENCI A INFERTILIDADE"? QUE FRASE MELHOR SE REFERE À ENDOMETRIOSE?



imagem cedida por Free Digital Photos


Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta

A endometriose é uma doença muito séria, que precisa ser levada a sério por toda nossa sociedade, especialmente pelos órgãos públicos. É uma doença que pede políticas públicas (leia meus textos sobre o tema texto 1, texto 2, texto 3) com urgência. Hoje mesmo milhares de brasileiras estão presas às suas camas por conta dessa doença que atinge uma a cada 10 mulheres. Talvez por ser uma doença tipicamente feminina, apesar de mais divulgada nos últimos anos, ainda é pouco conhecida da maioria da população, inclusive, de muitos médicos e, inclusive, de muitas mulheres.  

Apesar de ser a doença feminina que mais causa infertilidade, ser portadora da doença não significa que a mulher será infértil ou que vai demorar mais para conceber. Ou que nunca irá gerar uma vida em seu ventre. Muitas mulheres descobrem ter a doença após algum tempo tentando engravidar, porém, ter endometriose não é sinônimo de que a mulher não vai conseguir ser mãe. Outras tantas mulheres descobrem ter a doença após a maternidade. Cada caso é um caso, e não devemos generalizar. Quero aproveitar que junho é o mês internacional da infertilidade para levar todas as endomulheres à reflexão, em especial, àquelas que já geraram seus filhos e que continuam passando sofrendo com as dores da endometriose. 

Algum tempo atrás comecei a ver mulheres postando a hashtag “eu venci a endometriose” quando conseguia seu tão desejado bebê. Essa expressão ficou ainda mais forte há cerca de dois anos, quando uma atriz, portadora da doença, engravidou naturalmente de seu primeiro filho. Desde a descoberta de sua gravidez, ela começou a postar essa expressão em suas fotos. Quero deixar bem claro que este texto representa a minha opinião mediante minha luta em prol do reconhecimento da doença como social para que haja políticas públicas (tratamento acessível) a todas endomulheres brasileiras. E também pela minha luta em mostrar que a endometriose é uma doença que maltrata e muito as mulheres, que a dor crônica e severa é a principal sintoma da doença.

Até relutei em escrevê-lo, mas desde que comentei sobre a ideia central dele no Insta-stories (siga @aendoeeu no Instagram tenho recebido mensagens diárias para escrever sobre o tema. E já que junho é o mês internacional de conscientização da infertilidade, e o texto tem tudo a ver com tema, pois é bem provável que teremos mais informações erradas sobre a endometriose, resolvi escrevê-lo. Desde a primeira vez que li a expressão “eu venci a endometriose” achei bem sem nexo. Várias e várias vezes fiquei me perguntando qual o real sentido, qual a conotação da frase? Se a ideia é celebrar a gravidez mediante a infertilidade que a doença poderá ocasionar, o correto não seria “eu venci a infertilidade” ou “ eu venci a infertilidade causada pela endometriose” ou "eu venci a infertilidade da endometriose"? 

Se a gravidez fosse a cura da doença com certeza a expressão estaria correta. E eu não precisaria escrever esse texto. Mas como, infelizmente, não é, então, na minha cabeça essa frase não faz sentido. Nos meus mais de cinco anos na luta em prol de políticas públicas e direitos das portadoras tenho percebido que enquanto não desvincularmos a endometriose da infertilidade, já que são duas doenças diferentes, infelizmente, a endometriose não será levada tão a sério quanto ela e suas portadoras, que sofrem com as dores crônicas, merecem. Não porque eu não quero, mas porque vivemos num país machista onde os homens não sabem o que é gerar, não sabem o que é nascer com a vontade de ser mãe, não sabem o que é ter esse sonho como meta de vida.

Já postamos um texto do cientista americano doutor David Redwine falando que agravidez não cura a endometriose e que a gravidez não é tratamento para a doença. Quantas mulheres tiveram um, dois, três ou mais filhos e descobriu ser portadora da doença anos depois? Na coluna “História das Leitoras” temos o exemplo de muitas mulheres que continuaram a sentir dor ou até pioraram após a descoberta da gestação (leia a história da paulistana Hosana Santana parte 1 e parte 2, da capixaba Danielle Balbino, da americana Candice Frederikson e da portuguesa Sara Ferreira, dentre outras relatadas na coluna). A meu ver o mais correto seria dizer “eu venci a infertilidade” ou “eu venci a infertilidade causada pela endometriose” ou "eu venci a infertilidade da endometriose". Por conta das informações equivocadas sobre a doença, milhares de mulheres estão sofrendo não só por causa das consequências dela, mas pela ignorância das pessoas que as cercam. Quem nunca ouviu a expressão: "Engravida que cura", "tenha filhos que você vai melhorar". 

E é justamente por conta destas milhares de vidas em sofrimento que resolvi escrever este texto, mesmo sabendo que ele poderá desagradar alguma pessoas.  A atriz em questão bem que poderia se informar melhor e nos ajudar a passar a correta informação sobre a doença, mas até agora ela só ajudou a espalhar desinformação e uma expressão que aumenta ainda mais um dos mitos da doença. A endometriose não é brincadeira, ela afeta cerca de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo, mais de 6 milhões apenas no Brasil. Enquanto  a infertilidade afeta cerca de 40% das endomulheres, as dores severas atinge cerca de 80%. Esses dados são mais que números altos, são milhares de vida sofrendo com o descaso da sociedade e o preconceito que ainda 

Sei bem a alegria que é receber o tão sonhado positivo para quem tem endometriose, mas precisamos desvincular uma doença da outra, trata-las como duas, e não uma. Temos de mudar nossa postura perante esta doença tão devastadora para que aquelas que sofrem em suas camas, aquelas que tomam doses cavalares de morfina diariamente sejam mais respeitadas e para que frases como: “engravida que você ficará curada” ou “engravida que passa”, dentre muitas outras, parem de ser ditas seja por médicos, por parentes, por amigos e até mesmo por outras mulheres.

Espero que esse texto sirva de reflexão ao maior número de pessoas possíveis. Precisamos espalhar a correta informação sobre a endometriose, tirar todos os seus mitos para deixarmos de ser invisível para a sociedade. Precisamos de vozes na sociedade a nosso favor e não aumentar ainda mais os mitos que essa doença carrega há séculos. A mudança está em nossas mãos... e em nossas falas, escritas... Pense nisso! Beijo carinhoso!